
De certa forma, a possibilidade de um “Brasil independente”
remonta à época da vinda da família real para o Brasil em 1808, acontecimento
que inaugurou em nosso país o chamado Período Joanino. D. João VI veio com sua
corte para o Brasil por ter se recusado a ser conivente com a política do
Bloqueio Continental, imposta por Napoleão Bonaparte contra o Reino Unido. Como
Portugal possuía importantes acordos econômicos com os ingleses, D. João VI
achou por bem desobedecer às ordens do imperador francês e abandonar a
Península Ibérica, sendo escoltado por navios ingleses até a costa brasileira.
Nessa época, o Brasil foi alçado à condição de Reino Unido,
junto a Portugal e Algarves, deixando assim a condição de ser colônia. Muitas
das ações empreendidas por D. João VI no Brasil durante o período em que aqui
esteve (1808-1821) colaboraram para que o país ganhasse uma relevância que
ainda não possuía. Essa relevância tinha dimensões econômicas, políticas e
culturais. Entretanto, nos anos que seguiram após o fim da Era Napoleônica
(1799-1815), Portugal passou por intensas turbulências políticas. Essa situação
exigiu a volta do rei D. João VI com sua corte em 1821.
O rei português deixou no Brasil como seu representante D.
Pedro, seu filho, que recebeu o título de príncipe regente. Durante o ano de
1821 e até os primeiros dias do mês de setembro de 1822, as turbulências
políticas de Portugal fizeram-se refletir também no Brasil. As assembleias que
ocorriam em Lisboa (que contavam também com representantes brasileiros)
ganhavam pautas que defendiam o retorno de Portugal como o centro político do
referido Reino Unido e, por consequência, a submissão do Brasil à sua posição.
Ao mesmo tempo, em terras brasileiras, o príncipe regente,
orientado por representantes das elites políticas locais, promovia uma série de
reformas que desagradavam as elites lusitanas. As ações de de D. Pedro
mobilizaram a corte portuguesa a pedir a sua volta imediata para Portugal no
início de 1822. D. Pedro recusou-se a abandonar o Brasil e, em 09 de janeiro,
optou pela sua permanência no país. Esse dia ficou conhecido como Dia do Fico.
As indisposições entre Portugal e Brasil continuaram ao
longo do primeiro semestre de 1822. Esse período de intensas discussões e
propostas direcionadas à efetivação da independência foi exaustivamente
estudado por muitos historiadores, tanto portugueses quanto brasileiros. No
Brasil, destacam-se os nomes de Oliveira Lima e Nelson Werneck Sodré. No mês de
setembro, as cortes portuguesas deram um ultimato para D. Pedro voltar para
Portugal, sob ameaça de ataque militar. O príncipe que estava em viagem ao
estado de São Paulo recebeu a notícia e, antecipando uma decisão que já estava
quase nas “vias de fato”, declarou o país independente às marges do rio
Ipiranga, no dia 07. Esse gesto implicaria a futura organização do país
enquanto nação e enquanto império, um projeto que não era fácil de ser
conduzido, como acentua o historiador Boris Fausto:
“Alcançado em 7 de setembro de 1822, às margens do riacho
Ipiranga, dom Pedro proferiu o chamado Grito do Ipiranga, formalizando a Independência
do Brasil. Em 1° de dezembro, como apenas 24 anos, o príncipe, regente era
coroado Imperador, recebendo o título de dom Pedro I. O Brasil se tornava
independente, com a manutenção da forma monárquica de governo. Mais ainda, o
novo país teria no trono um rei português. Este último fato criava uma situação
estranha, porque uma figura originária da Metrópole assumia o comando do país.
Em todo de dom Pedro I e da questão de sua permanência no trono muitas disputas
iriam ocorrer, nos anos seguintes.” [1]
NOTAS
[1] FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora
da Universidade de São Paulo, 2013. p 116.
Por Me. Cláudio Fernandes
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