sexta-feira, junho 01, 2018
O custo da seca nos municípios do Sertão Central
Pedra Branca, no Sertão Central (a 92 quilômetros de Fortaleza),
sai do pós-chuvas de 2018 com uma conta a pagar bem maior que as despesas
normais no serviço de abastecimento de água. Foi o preço por medidas de
emergência que precisou adotar em três anos muito severos de estiagem. A cidade
está com as torneiras sem funcionar desde 2015 – a seca havia começado desde
2012. Nesse tempo, a população de 42 mil habitantes viveu principalmente à base
de carros-pipa.
A reativação do fornecimento hídrico municipal estava prevista para
o fim deste maio. Coincidiria com o fecho da melhor quadra chuvosa local em
três anos: na média, choveu 512,9 milímetros este ano (27,4% abaixo do
esperado). De última hora, uma factualidade nacional alterou os planos. “(A
água nas torneiras) vai atrasar mais um pouco por conta da greve dos
caminhoneiros”, confirma o diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae)
do município, Gilberto Souza.
Peças e equipamentos de grande porte – como bombas, flutuantes,
tubulações e balsas - estavam em caminhões retidos na BR-116 durante o protesto
da categoria. Era material esperado para instalação no reservatório local que
teve a recarga mais favorável, o Trapiá II. Chegaria nos primeiros dias da manifestação,
iniciada dia 21 passado.
O contratempo foi inevitável. “Agora deveremos reativar esse
abastecimento entre 10 e 15 de junho somente. Esperamos”, sinaliza o gestor. O
problema com a greve dos caminhoneiros parece até pequeno, diante da perspectiva
de volta do fornecimento. O revés com a própria falta d’água em Pedra Branca
foi tão grave quanto a conta da crise hídrica. Até antes de 2015, o Saae
chegava a gastar perto de R$ 150 mil mensais, nas despesas médias com folha de
pessoal e operação/manutenção do sistema local sanitário e de abastecimento. O
dinheiro de custeio saía basicamente do arrecadado nos boletos residenciais e
comerciais. Pouco mais de 6.700 ligações ativas. A incerteza sobre a água foi
mandando fatura pesada. À medida que a estiagem piorava, a conta subia.
Proporção inversa à queda do volume dos açudes.
Cada medida paliativa adotada pela administração municipal saiu
mais dispendiosa que o abastecimento normal. São vários cálculos. Nos três
últimos anos, 189 poços precisam ser perfurados em Pedra Branca. Cada um ao
custo de R$ 7,5 mil: pelo menos R$ 500 para o levantamento geofísico, mais R$ 7
mil para a escavação propriamente. Foram mais de R$ 90 mil/ mês, ao longo
desses três anos, para manter a captação nesses poços. Incluindo compra e
manutenção de bombas submersas. Houve 36 poços que secaram – gastou-se para
cavar e não minaram água.
Para distribuir a água dos poços, a contratação local de
carros-pipa saiu por quase o dobro (R$ 260 mil/mês) do que era a despesa total
do Saae (R$ 150 mil /mês). Na intenção de diminuir ao mínimo possível a
circulação das 32 rotas, a administração interligou caixas d’água dentro da
sede municipal. Os caminhões despejam nos recipientes indicados e barateiam o
km rodado dentro de Pedra Branca. Porém, outra despesa. A caixa plástica, de 16
mil litros, precisou ser comprada e instalada: R$ 2,5 mil multiplicadas por 115
unidades adquiridas (32 delas pagas pelo Estado).
As providências debilitaram o planejamento financeiro do Saae. “A
seca saiu cara demais nesses três últimos anos pra gente. Gastamos o que
tínhamos e o que não tínhamos. Imagine isso num lugar pequeno desses”, descreve
Gilberto Souza, diretor do órgão. No triênio sem torneira funcionando, a gestão
municipal decidiu suspender a cobrança e o envio de boletos. “Achamos justo não
cobrar. Mas ficamos sem arrecadação nenhuma”. A última remessa de boletos foi
em junho de 2015. O Saae foi sendo bancado mês a mês pela verba da Prefeitura.
Quando se pensou que o fornecimento reativado traria alento à
gastança, surgiu novo desembolso. Mais R$ 300 mil, segundo o diretor do Saae.
“Íamos religar o sistema, mas o equipamento da estação de tratamento de água
não prestava mais. Tanto tempo parado, havia se estragado. Foi preciso
recuperar tudo. Fomos obrigados a fazer uma reforma completa”. Gilberto Souza
nem dá uma cifra total da conta desse tempo de estio. Os custos devem regredir
consideravelmente com a volta do abastecimento a partir deste mês.
O POVO
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