terça-feira, agosto 20, 2019
Sertão cearense sob risco de queimadas
ÁREAS com maior risco estão situadas nas regiões do médio
Jaguaribe, Inhamuns e Centro-Norte do Estado
Todo o ambiente sertanejo do Ceará tem pontos de alto risco de
incêndios florestais. A constatação é do estudo inédito da Fundação Cearense de
Meteorologia e Estatística (Funceme) que identifica com cruzamento de dados de
pluviometria média, umidade do ar e do solo, condições de vegetação e usos da
terra por agricultura, para indicar áreas com potencialidade às queimadas de
mata nativa. O levantamento, que passará a ser anual, indica as 20 cidades com
maiores áreas de risco - em oito delas a ameça está presente em mais de 40% do
território total do município.
Integrante do Comitê Estadual de Prevenção, Monitoramento e Combate
aos incêndios florestais (Previna), a Funceme irá com o estudo auxiliar a
formulação de diretrizes de prevenção, monitoramento, controle de queimadas,
além de poder indicar subsídios às políticas de autorizações de fogo
controlado. É o que explica Manuel Rodrigues, coordenador do projeto e
supervisor do Núcleo de Estudos Básicos da Funceme.
As áreas com maiores riscos estão situadas, predominantemente, nas
regiões do médio Jaguaribe, Inhamuns e Centro-Norte do estado. O meteorologista
da Funceme Raul Fritz destaca que são áreas com baixas médias pluviométricas.
"Esses riscos tendem a aumentar no segundo semestre dos anos,
principalmente em outubro, novembro e dezembro, pela distância da quadra
chuvosa, por serem meses com menos incidência de chuvas, e pela força dos
ventos que se intensifica".
De fato, o monitoramento histórico, desde 1998, do Programa
Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), aponta que os
nove primeiros meses no Ceará têm média de 81 focos de calor por mês, mas
quando se observa apenas outubro, novembro e dezembro, a média é de 1.213,6 por
mês. Em 2019, até o último dia 15, foram detectados 272 focos de calor no
Estado.
Entre os dados levantados pela Funceme, o município de
Independência, na microrregião de Sertão de Crateús, se sobressai. Primeira da
lista, a cidade tem 1.902,13 quilômetros quadrados (km²) - 59,13% de seu
território - identificado como área de perigo de sinistros. Conforme Lindomar
Galvão, secretário de Agricultura de Independência, os sete anos seguidos de
seca, as baixas médias de chuva (com média anual de 566,8 milímetros) e o
costume sertanejo de queimadas para preparação de terreno explicam o alto
índice. "A seca afeta a produção agrícola, e leva ao aumento de áreas
propícias ao fogo. Com a baixa pluviometria os agricultores buscam por solos
mais férteis e de fácil manuseio. Esse manuseio muitas vezes é feito com uso de
fogo", explica.
Para tentar minorar essas questões, Galvão expõe que a cidade tem
feito parcerias para "o plantio do algodão agroecológico e orgânico,
priorizando a preservação do solo e do meio ambiente, não permitindo o
desmatamento e nem o uso do fogo no preparo do solo". "Também estamos
fazendo reimplantação do Programa Aduba Sertão que trata da recuperação de
áreas degradadas", conta.
A preocupação com as queimadas devem ser um dos focos do processo
de prevenção, conforme recomenda tenente Waldomiro Loreto, do Corpo de
Bombeiros Militar, especialista em combate a incêndios florestais. De acordo
com Loreto, 98% dos incêndios têm como causa deflagradora a ação humana.
"Em áreas urbanas, são as queimadas de lixo; na zona rural, são as
queimadas para preparo do solo que, por falta de manutenção dos aceiros e por
questões climatológicas acabam por se propagar", detalha.
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