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Ceará foi o segundo estado onde mais se matou mulheres em 2018
Ceará foi o segundo estado onde mais se matou mulheres em 2018
Ceará foi o segundo estado onde mais se matou mulheres em 2018 —
Foto: Reprodução/JN
O dia 8 de março não representa as comemorações dos pontos
positivos de ser mulher, especialmente no Ceará. O Estado amarga a
vice-liderança nas estatísticas de mulheres assassinadas em 2018, com 447
homicídios dolosos contra elas, sendo 26 registros considerados feminicídios,
casos em que os assassinatos contra mulheres ocorrem por questão de gênero. Os
dados são do Monitor da Violência, levantamento feito pelo G1, e contabilizam
homicídios, feminicídios e latrocínios.
MONITOR DA VIOLÊNCIA: Cai o nº de mulheres vítimas de homicídio,
mas registros de feminicídio crescem no Brasil
MAPA ESPECIAL: Os casos de feminicídios ano a ano no país
O Estado só fica atrás de São Paulo, onde 461 mulheres foram
assassinadas no ano passado, sendo 136 feminicídios. De acordo com o Monitor, o
Ceará apresentou aumento de 27% no número de ocorrências, comparado a 2017,
quando foram registrados 352 homicídios de mulheres, dos quais 18 foram
feminicídios.
“Acredita-se que pode ser uma reação à própria maior liberdade e
autonomia das mulheres. Seria uma ‘contra-reação machista’, como a gente
diria”, argumenta Beth Ferreira, assistente social, educadora feminista e
integrante do Fórum Cearense de Mulheres e da Articulação Mulheres Brasileiras.
Casos
Dentre os casos emblemáticos no Estado, Beth cita o de Stefhani
Brito, morta em 1º de janeiro de 2018, no bairro Mondubim. A jovem de apenas 22
anos foi assassinada a pauladas e teve o corpo desovado próximo a uma lagoa.
Após ser preso, um ano depois, o ex-namorado de Stefhani confessou que a matou
por ciúmes de que ela mantivesse relacionamento com outro homem.
Outro caso marcante foi o de Silvany Sousa, cuidadora infantil
morta na frente do filho, numa praça pública no município do Crato, na região
do Cariri, em agosto de 2018. O ex-marido de Silvany só se rendeu com a chegada
da Polícia Militar. Ao ser questionado sobre a motivação do crime, ele teria
dito que não aceitava o fim do relacionamento, ocorrido cerca de três meses
antes.
“Quando a gente vai analisar a forma como elas foram assassinadas,
percebemos indícios de misoginia, ódio ao feminino”, considera Beth Ferreira.
Contudo, ela destaca que muitos casos que o Governo cearense põe na conta da
guerra do tráfico não se resumem a esses fatores, já que as mulheres não são
assassinadas da mesma forma que os homens.
“Elas são, primeiro, torturadas; depois estupradas, raspam a cabeça
delas para humilhar, cortam os seios. Isso tudo é filmado e depois enviado para
o suposto inimigo da outra facção. A mulher se torna um objeto na guerra”,
analisa a educadora. Foi assim no caso de Nara Aline, Darcyelle Ancelmo e
Ingrid Teixeira, torturadas e decapitadas num mangue do bairro Vila Velha, no
dia 2 de março de 2018, às vésperas do Dia Internacional da Mulher daquele ano.
Especificidade do crime
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) foi
procurada para comentar os números, mas não enviou retorno até o fechamento
desta publicação. Para Beth Ferreira, é preciso qualificar a morte violenta da
mulher como feminicídio e, depois, realizar a investigação para confirmar.
“Atualmente, a Secretaria de Segurança faz o contrário: coloca como homicídio
doloso e depois investiga”, pontua.
Além disso, a assistente social defende políticas públicas de
prevenção e enfrentamento ao homicídio e feminicídio, através de campanhas
educativas. Uma das sugestões é discutir relações de gênero dentro do ambiente
escolar, já que o Estado gere as escolas de Ensino Médio. “É uma forma de
prevenção à violência contra a mulher”, diz.
Mais políticas
Nesta sexta-feira (8), o governador Camilo Santana anunciou a
implantação da Casa da Mulher Cearense nas principais regiões do Estado. Os
equipamento se voltarão para o atendimento humanizado e especializado das
mulheres em situação de violência, bem como à capacitação para a sua autonomia
econômica, a exemplo do que ocorre na Casa da Mulher Brasileira, que já
funciona em Fortaleza.
G1 ce
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