O Ministério Público do Trabalho recomendou à TV Globo 14
medidas para promover a participação de pessoas negras em produções
audiovisuais e no jornalismo. A medida foi motivada pela ausência de
personagens pretos e pardos* na novela Segundo Sol, ambientada em Salvador, na
Bahia, e que estreia na segunda-feira (14). A recomendação é de sexta-feira
(11) à noite, antevéspera dos 130 anos da abolição no Brasil, regime que durou
três seculos.
Além de cobrar mudanças na novela, a recomendação prevê
um conjunto de ações para promover a igualdade racial “em todo ambiente de
trabalho da empresa”. Entre elas, a mais importante é a elaboração de um plano
de ação prevendo formas de incluir, remunerar e garantir a igualdade de
oportunidades aos negros. Outra recomendação é a realização de um levantamento
de negros e negras em todas as produções da emissora, incluindo o jornalismo.
A TV Globo tem sido criticada por escalar poucos artistas
negros para a novela Segundo Sol, apesar de o enredo se passar na Bahia, estado
com uma das maiores populações negras no país, segundo o Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE). Até uma campanha foi lançada com cartazes de
artistas negros que já passaram pela emissora, mas ignorados pela produção.
“Decidimos expedir essa nota com o fim de mostrar a importância
de a empresa respeitar a diversidade racial”, declarou a coordenadora Nacional
de Combate à Discriminação no Trabalho do MPT, procuradora Valdirene Silva. Ela
disse que, apesar de a novela ser uma obra artística e aberta, “tem a obrigação
de incluir atores negros em proporção suficiente para uma real representação da
sociedade”.
“Estamos diante de uma situação que é vista como
discriminatória”, com base em leis internacionais e no Estatuto da Igualdade
Racial.
A TV Globo tem 10 dias para comprovar as mudanças no
roteiro e na produção da novela Segundo Sol e 45 dias para apresentar um
cronograma de cumprimento das demais recomendações. Caso não sejam atendidas, o
MPT pode propor ação judicial como último recurso.
Nas redes sociais, o diretor de cinema e pesquisador
pós-doutor Joel Zito Araújo, desabafou na sexta-feira (11) sobre a situação.
“Nunca pensei que meu filme A negação do Brasil, lançado em 2001, permaneceria
atual por tanto tempo (infelizmente)”. O documentário fala sobre papéis que atores
negros representaram nas novelas brasileiras, em posições subalternas, apenas.
Ele alertava para a influência na perpetuação do racismo e na limitação do
mercado de trabalho.
Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe Seu Comentário é Muito Importante para Nós