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segunda-feira, julho 04, 2016

"O que faz sucesso hoje é música sem futuro", diz Fagner

O cantor Fagner posa para foto no jardim de sua casa em Fortaleza, no Ceará, em 2013 (Foto: Jarbas Oliveira/Folhapress)
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Raimundo Fagner, 64, fica empolgado ao falar de "Pássaros Urbanos", 38º álbum de sua carreira, que chega agora às lojas. Segundo ele, a expectativa que sente do público anuncia uma recepção mais calorosa do que aquela dada ao disco anterior, "Uma Canção no Rádio" (2009).

"Com certeza não voltará a ser como era, vendendo milhões, mas acho que o mercado está se recuperando, se reposicionando em vários formatos. Esse disco pode ser um termômetro do que ainda se pode vender. Sempre fui um bom vendedor", diz Fagner.

Com agenda lotada —"Meu show é o mesmo sempre, com meus sucessos"—, ele diz que o público sempre pede que cante músicas inéditas.

"Pássaros Urbanos" tem letras elaboradas. Fagner já musicou poemas de gigantes como Florbela Espanca (1894-1930) e García Lorca (1898-1936). Como alguém como ele vê as letras dos atuais sucessos? Com preocupação.

"Eu e os da minha geração continuamos cultuados pela qualidade do que a gente fez e faz. Mas a inutilidade das novas canções de sucesso me preocupa. É uma música que não tem futuro."

Para Fagner, o nível rasteiro da produção musical é incentivado para anestesiar as pessoas. "O que essa moçada vai ouvir daqui a alguns anos, para lembrar de passagens de suas vidas? É tudo descartável, não vai ficar."

"Pássaros Urbanos" mostra faixas pop, como "Tanto Faz", tem música balançada ("No Ceará É Assim") e baladas ("Arranha-Céu").

São duas as canções escritas com Fausto Nilo, "Versos Ardentes" e "Balada Fingida", ambas com cara de sucessos de rádio. Fagner se orgulha de ter insistido para que o amigo virasse compositor.

"Foi um pedido meu que originou a primeira parceria, ´Fim do Mundo´, gravada pela Marília Medalha. Aí Fausto se empolgou e virou parceiro meu e de outros músicos."

No novo álbum, Fagner gravou "Paralelas", de Belchior, seu parceiro mais fiel no início de carreira. Ele lamenta o rompimento da parceria -"Eu esperava muito de nós dois ".

"Nós escrevemos juntos a canção mais importante de minha obra, ´Mucuripe´. Mas eu fui para o Rio, ele foi para São Paulo, a distância interferiu na parceria e na amizade."

Quanto a "Paralelas", há tempos ela ocupa espaço no repertório de seus shows. "Adoro cantar essa música, mas sempre esquecia dela na hora de gravar", conta, rindo.

Ele diz não saber a razão do sumiço de Belchior. "As pessoas perguntam muito, pensam que somos mais amigos do que realmente somos."

NOVO PARCEIRO

Segundo ele, Zeca Baleiro agora ocupa esse espaço que Belchior teve em sua vida. Zeca canta uma faixa do novo álbum, "Samba Nordestino". Na década passada, a dupla fez turnê e lançou CD e DVD.

"A coisa mais bacana que acontece comigo hoje é a química com o Baleiro. A gente se entende bem, vamos acabar fazendo uma sequência desse trabalho", conta Fagner. Antes disso, ele terá colaboração de Baleiro na gravação de um disco com Zé Ramalho.

Fã de futebol, Fagner quer que o público torça pela seleção e separe os jogadores dos políticos e dos organizadores da Copa. Ele recusou convite da Fifa para dar show numa FanFest —celebrações de rua marcadas nos dias de jogos.

"A seleção não é responsável pelos desmandos que essa Copa já acumulou, com esses estádios, muita corrupção e a falta de preocupação em deixar um legado ao povo."

Fagner defende manifestações pacíficas até as eleições. "Se conseguirmos repetir a conscientização das Diretas Já e dos caras-pintadas contra Collor, essa insatisfação política vai gerar um ganho enorme para todos."


Fonte: Folha de S. Paulo


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