
11 de
fevereiro de 2016 às 15:20
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O ministro
da Saúde, Marcelo Castro, anunciou nesta quinta-feira (11) uma parceria firmada
entre o Instituto Evandro Chagas, sediado em Belém, e a Universidade do Texas,
nos Estados Unidos, para desenvolver uma vacina contra o vírus da zika. Segundo
ele, a experiência das instituições pode encurtar o prazo de formulação do
produto em laboratório para um ano. Depois, a vacina deve ser testada em
animais e humanos por mais dois anos, antes de o imunizante ser aplicado em
grande escala, de acordo com o ministro.
"Como o
instituto e a universidade têm o mesmo viés, fizemos essa parceria para
desenvolver a vacina. Sabemos que é demorada, mas há um grande otimismo de que
poderemos desenvolver a vacina em um tempo menor que o previsto. Aproximadamente
em um ano, podemos ter essa vacina desenvolvida", afirmou Castro.
"Seria um ano para desenvolver e dois anos para testar o produto",
acrescentou.
O prazo para
desenvolvimento não significa que a vacina estará disponível na rede de saúde
daqui a um ano. Além dos testes em animais, o produto precisa ser testado em
humanos, enviado para laboratórios de outras partes do mundo e registrado na
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo.
"O que
está previsto no cronograma é dois anos, mas nossos cientistas estão tão
otimistas que estão prevendo um prazo inferior. Aí, vai ter que fazer testes em
animais, em humanos, e isso demora. A vacina da dengue, por exemplo, está na
fase III e ainda vai levar cerca de um ano", diz Castro.
No melhor
dos cenários, Castro diz que a vacina poderia estar disponível à população
dentro de três anos. "O caso é tão urgente que estamos pedindo a presença
da FDA [órgão americano de vigilância sanitária] e da Anvisa para eliminar
burocracias. Não queremos pular etapas, mas agilizar etapas", diz.
A parceria
prevê investimento de US$ 1,9 milhão pelo governo brasileiro, nos próximos
cinco anos. O valor do aporte a ser feito pelos EUA não foi informado.
O lado
brasileiro do desenvolvimento será coordenado pelo pesquisador Pedro
Vasconcelos, do Evandro Chagas. Assim como o ministro, o pesquisador também diz
que será possível desenvolver a vacina em até um ano, embora o cronograma de
trabalho oficial preveja prazo de dois anos.
"Essa
vacina vai ser feita da seguinte maneira: após o sequenciamento do vírus zika,
que já está acontecendo, a parte que é responsável pelo desenvolvimento de
anticorpos no hospedeiro será incorporada a uma molécula sintética, que vai
estimular o organismo humano".
Testes
simultâneos
Segundo
Vasconcelos, grande parte da pesquisa será desenvolvida em Galveston, no
Textas. Os testes pré-clínicos, que antecedem a aplicação em humanos, devem ser
feitos simultaneamente em Galveston, em camundongos, e em Ananindeua, na região
metropolitana de Belém, em macacos.
Geralmente,
os testes nas duas espécies são feitos em separado. "Essa simultaneidade
vai acelerar o procedimento em seis a oito meses. Por isso, acreditamos que a
vacina poderá estar disponível para teste em humanos em doze meses. Um pouco
mais, um pouco menos", diz o pesquisador.
Críticas
O anúncio da
parceria com os EUA ocorreu numa semana em que cientistas estrangeiros vinham
criticando o Brasil pela dificuldade de acesso a amostras do vírus da zika.
Problemas burocráticos e desinteresse por colaborações estariam desestimulando
cientistas brasileiros a enviar amostras para fora.
Castro não
quis criar polêmica sobre as críticas. "Elas são livres", afirmou.
Há uma
semana o ministério divulgou que as amostras coletadas no Brasil já estão sendo
compartilhadas com organizações estrangeiras com o propósito de pesquisa.
Notificação
adiada
O ministério
da Saúde adiou "para as próximas semanas" a notificação obrigatória
dos casos de zika nos estados. O anúncio foi feito no início do mês, em
entrevista à agência Reuters, e era previsto para esta semana. Segundo o
ministro, houve um atraso no repasse dos kits de exames aos gestores locais.
"Até a
próxima semana, vamos reunir o corpo técnico. Houve uma pequena demora [no
envio dos kits] pela licitação, que atrasou. Quando sentirmos segurança, vamos
determinar a notificação obrigatória ao ministério", disse.
Os testes
são fabricados pelo Instituto Bio-Manguinhos, que é vinculado à Fundação
Oswaldo Cruz (Fiocruz) e ao Ministério da Saúde. A tecnologia só consegue
identificar a presença do vírus da zika durante a fase "virulenta",
em que o micro-organismo está ativo no corpo.
O ministro
diz que avaliações clínicas também poderão ser notificadas, desde que o médico
sinta "segurança" no diagnóstico. "É possível dar diagnóstico
clínico da zika? É, mas não em todos os casos. Em muitos, os sintomas se
confundem com os da dengue."
Mais
parcerias
Até o fim do
mês, técnicos do Centro de Prevenção e Controle de Doenças norte-americano
(CDC) devem chegar ao país para investigar a relação do vírus da zika com a
microcefalia. Os estudos devem ser feitos na Paraíba, em parceria com o governo
local.
Representantes
do CDC estão no país desde novembro e apuram a relação do vírus com doenças
neurológicas como a síndrome de Guillain-Barré. Os resultados ainda não foram
divulgados.
"O
presidente Obama mandou um projeto ao Congresso pedindo US$ 1,8 bilhão para ações
contra o vírus zika. Aqui, compreende-se desenvolvimento de pesquisas, vacinas,
medicamentos e ações de controle de epidemiologias", diz Castro.
O governo
também estuda parcerias com o Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH) e com o
laboratório GSK, envolvidos no desenvolvimento da vacina contra o ebola.
Relação 'sem
dúvidas'
O ministro
da Saúde afirmou nesta quinta que o governo não tem mais dúvidas sobre a
relação existente entre o vírus da zika e o aumento nos casos de microcefalia.
O que os pesquisadores investigam agora, segundo ele, é a existência de outros
fatores "colaterais".
"Não há
a menor dúvida de que o fator determinante da epidemia de microcefalia que
temos no Brasil é a epidemia de zika. O que nós vamos investigar agora é se há
outros fatores adicionais, outras influências. Nós não temos hipóteses, tudo
ainda vai ser investigado", disse.
Castro
reafirmou que as estratégias de combate ao vírus e ao mosquito Aedes aegypti
são uma prioridade do governo e que, por causa disso, têm recursos garantidos
no orçamento da União.
"Este é
o maior problema que o Brasil tem. Para o maior problema do país, não podem
faltar recursos e a presidente Dilma tem sido enfática ao dizer que isso [a
falta de dinheiro] não será um problema. Os recursos não são vultosos, não é
grande quantidade para a dimensão do problema", declarou.
G1
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