quinta-feira, outubro 25, 2018
Depressão não é preguiça e nem desculpa, depressão é luta
Ah, como eu queria que fosse frescura, como eu queria que fosse uma
fase, como eu queria que fosse preguiça e que só a vontade bastasse para mudar
tudo aquilo. O que ninguém entendia era a autoestima perdida e o desencanto que
se fazia presente.
Já ouvi várias coisas a respeito da depressão. Já a nomearam como
“frescura” e dizem ser coisa de quem não tem o que fazer. Já falaram para eu
ocupar minha cabeça e parar de pensar besteira. Falaram que eu deveria
trabalhar mais, estudar mais e deixar de pensar em todas essas loucuras.
Já falaram, também, que só reclamo e que uso o termo depressão
porque me convém, para que as pessoas acabam tendo pena de mim. Outros já se
incomodaram com o meu choro e falaram que eu precisava ir ao psiquiatra com
urgência.
O que ninguém entendia, porém, era o medo que eu sentia de falar
das minhas dores, era o peso da angústia em me manter acordada, era o fato de
eu buscar o refúgio dormindo para me esquecer da dor e fazer o tempo passar
mais rápido. Era a luta de todos os dias de ter de enfrentar o seu “eu” em
pedaços e, depois, juntá-lo novamente.
Ninguém entendia o quanto eu queria sair daquilo: era uma como uma
prisão. Eu era prisioneira de medos, fracassos, mágoas e angústia. Ninguém
entendia que eu não via mais graça em nada e isso não tinha nada a ver com
antipatia. Não entendiam que a força que me puxava para cama era bem maior do
que a que me encorajava a levantar dela e sair para o mundo para ver e conhecer
pessoas. Eu não tinha forças para falar, saudar alguém ou mesmo me arrumar. Eu
me olhava no espelho e gostava do meu pijama velho, rasgado e do meu cabelo
bagunçado. Eu não me preocupava com isso, pois a bagunça e os rasgos eram bem
maiores dentro de mim.
Ah, como eu queria que fosse frescura, como eu queria que fosse uma
fase, como eu queria que fosse preguiça e que só a vontade bastasse para mudar
tudo aquilo. O que ninguém entendia era a autoestima perdida e o desencanto que
se fazia presente.
Ninguém conseguia ver a minha luta diária para virar a página, como
eu me sentia impotente demais diante de tanta dor e, quantas vezes, eu não
pensei em entregar os pontos.
Quantas vezes eu chorei sozinha no banheiro para ninguém ver,
quantas vezes eu quis dormir e acordar leve. Nunca chame algo assim de falta de
fé ou de falta de Deus. Depressão não tem a ver com falta de religiosidade.
Depressão tem a ver com conflitos, com situações que muitas vezes nos jogam no
buraco. Depressão não é fraqueza e está bem longe disso.
É como estar no meio da maré e ela querer te levar: você tenta, com
todas as suas forças, mas uma hora cansa. A tal da depressão quase me levou e
ela pode levar muita gente, se continuarem acreditando ser frescura, se
continuarem achando que o outro precisa de motivos para as suas dores, que é
falta de vontade ou que, sei lá, a pessoa é muito sentimental. Pode levar muita
gente, como já tem levado, porque muitos continuam acreditando que remédios
bastam e que ”é fase e vai passar”.
Sabe, as pessoas querem ser ouvidas, elas têm sede de ver as suas
dores acolhidas. Mas, em meio a tantos julgamentos e conceitos errados, eu
preferia me calar, mesmo que isso não parecesse tão simpático. Era mais fácil
dizer que estava tudo bem e depois chorar, do que ter que contar sobre mim e
ter de ouvir uma resposta desagradável. Era mais fácil inventar desculpa para
não sair, do que ter que enfrentar a mim mesma e a todos. Qualquer coisa era
mais fácil do que ter que parecer bem.
Ninguém parou para ver a tempestade que havia em mim. Ninguém
entendia o quanto eu lutava pra não chorar quando estava rodeada de pessoas e
que, cansada de tanto lutar contra esses sentimentos que me sufocavam, na
maioria das vezes preferia o meu quarto.
Não é do dia para a noite que você se liberta, é com apoio, é com
ajuda, é com acolhimento e muito esforço. É um processo, é um leão que você
mata todos os dias dentro de você, é sentir o seu dia tomando cor novamente
devagarinho, é aprender a apreciar aqueles filmes velhos de que você tanto
gostava e parou de assistir, é ler um livro novo e sentir prazer com cada frase
terminada. É conseguir sorrir sem ter que fazer esforço, é olhar no relógio e
querer parar o tempo ao invés de acelerá-lo. É ver a graça chegando aos poucos
e a alegria fazendo morada. Não sou melhor do que ninguém por não ter me
rendido totalmente, só eu sei o quanto era dolorido conviver com aquela dor e a
imensa falta de força que sentia todos os dias. No entanto, posso ser melhor do
que muita gente que não entende que depressão não é e está bem longe de ser
frescura.
Fonte: Caminhos.eu
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