
Em entrevista ao GLOBO, Santana alerta que o fato de o sistema
elétrico brasileiro ser interligado permite que um eventual acidente em um
equipamento se propague por todo sistema e não fique restrito ao local onde
aconteceu a falha. O executivo diz ainda que as investigações são uma
caixa-preta.
— A Abrace vai esperar os resultados das investigações, que é uma
verdadeira caixa-preta, sem transparência, da qual o consumidor, que paga a
conta, não chega perto. De modo geral, são conduzidas para minimizar os efeitos
da culpa, quando encontram culpados. Ainda não temos a conta (dos prejuízos)
com precisão, mas devem superar os R$ 600 milhões, considerando o que deixou de
ser produzido nas regiões afetadas — calculou Santana.
O presidente da Abrace disse que o apagão foi um evento “que jamais
poderia ganhar a abrangência que alcançou”, envolvendo mais de 25% do total da
carga que estava sendo gerada naquele momento. Segundo Santana, o país investe
muito para evitar que acidentes de grandes proporções se espalhem pelo sistema:
— Para eventos de grandes proporções se investe muito, mas sem
efetividade. O sistema de proteção, com o ilhamento de uma área do acidente,
parece não ter funcionado novamente. E foi um problema que aconteceu em momento
estratégico para o setor elétrico. Não há um só governo que não tenha um apagão
para chamar de seu.
Executivo não descarta falhas na construção da linha
O executivo acredita que não foi apenas uma falha no disjuntor (equipamento
de proteção que evita danos em outros aparelhos) provocou o desligamento do
sistema Norte/Nordeste:
— Tudo indica que a ocorrência dificilmente está relacionada a uma
simples falha do disjuntor. Uma outra sequência de falhas será identificada no decorrer
da fiscalização. Os dados, se o sistema foi bem projetado, ficam armazenados em
algum lugar, não sendo difícil se encontrar a cadeia de erros.
De acordo com o presidente da Abrace, sistemas de redundância (que
são acionados em caso de falhas ou acidentes) são controversos e, muitas vezes,
ineficazes, conforme temos visto nos últimos apagões, lembra Santana:
— Muitos países, entre eles os Estados Unidos, temem a interligação
dos grandes sistemas elétricos. Ao mesmo tempo que a interligação permite uma
redundância de equipamentos, e pagamos por isto, é ela que facilita a
propagação de uma ocorrência que poderia ser resumida a uma subestação. Além
disso, a boa operação da redundância é determinada por treinamento e ótima
qualificação do pessoal, o que assegura uma coordenação precisa das ações. No
Brasil, há um só operador do sistema, mas, nessas horas, ele precisa coordenar
as ações de uma dezena ou mais de transmissoras e usinas, o que dificulta mais
ainda o isolamento da área afetada.
Edvaldo Santana não descarta, também, que falhas na construção da
linha de transmissão podem ter causado o apagão. A construção do linhão atrasou
por causa de problemas como a saída da espanhola Abengoa, que entrou em
recuperação judicial no ano passado. A empresa era responsável pela construção
de um dos trechos das linhas.
— Como é uma instalação muito nova, não se descarta a possibilidade
de um problema construtivo, dada a compreensível pressa para recuperar o atraso
da Abengoa.
Com informações O Globo
FONTE: CEARÁ AGORA
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