
“Percebi que aquela toada da agronomia tradicional estava muito
batida”, lembra Okano. De lá para cá, ele começou a procurar cursos e estágios
paralelos à faculdade para se tornar um agrônomo digital. Hoje, prestes a
concluir a faculdade, acredita que com essa qualificação extra poderá conseguir
um emprego com salário inicial até 25% maior do que o pago a um agrônomo tradicional.
“A agronomia digital é um mar de calmaria: pouca gente trabalhando e uma
demanda forte por profissionais qualificados.”
O que o estudante percebeu na prática aparece nos resultados de uma
radiografia do mercado de trabalho do agronegócio, feita pelo Centro de Estudos
do Agronegócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Nos últimos cinco anos, o
agronegócio tem absorvido cada vez menos mão de obra, sobretudo informal. Isso
ocorreu por causa da incorporação de novas tecnologias no campo, mais
intensivas em capital, que ampliaram a produtividade.
O resultado foi o aumento da remuneração dos trabalhadores, num
ritmo mais intenso do que o da economia em geral. O campo admitiu profissionais
qualificados, como Okano, e pagou mais por isso.
O estudo inédito, baseado em dados da Pnad do IBGE e coordenado
pelo economista Felippe Serigatti, revela que entre 2012 e 2017 a população
ocupada no agronegócio caiu 1,9% ao ano. Em 2012 eram 19,7 milhões de pessoas
e, no fim do ano passado, 18 milhões.
A queda foi mais acentuada no trabalho informal (- 3,4% ao ano),
mas também houve recuo nos trabalhadores formais do agronegócio (-1,4%). Na
agricultura, que é um dos segmentos do agronegócio, a retração na ocupação foi
bem maior: de 5% ao ano nas contratações informais e de 4,9% nas formais. “O
agronegócio tem absorvido cada vez menos mão de obra informal e com menos
qualificação. Isso pode parecer uma má notícia, mas não é”, afirma Serigatti.
Ele argumenta que, com o uso intensivo de tecnologia, a
produtividade e a renda dos ocupados aumentou. Entre 2012 e 2017, o rendimento
médio real (descontada a inflação) do trabalho no agronegócio cresceu 7%, muito
acima do avanço registrado para os trabalhadores de todos os setores da
economia no período, de 4,6%. Na agropecuária, o avanço acumulado em cinco anos
foi de 9,2% e na agricultura, de 8,3%.
Caos
Serigatti explica que a redução de mão de obra no campo não levou
ao aumento do número de desempregados. “Não compartilho dessa hipótese de que a
liberação dessa mão de obra tenha levado ao caos social.” Com mais
produtividade, o agronegócio, ampliou a renda nas cidades do interior e os
desempregados do campo foram trabalhar no setor de serviços.
O economista faz essa afirmação com base no desempenho da economia
do interior que, de acordo com o IBGE, foi melhor do que o das regiões
metropolitanas. Entre 2000 e 2015, o PIB das cidades dos interior cresceu 3,7%
ao ano, enquanto o das regiões metropolitanas avançou 2,5% e o do País subiu
3%.
Um estudo da Confederação Nacional da Agricultura (CNA) confirma a
tendência apontada pela FGV, porém com números diferentes. Renato Conchon,
coordenador do Núcleo de Economia da CNA, diz que a fatia da mão de obra
ocupada no agronegócio, que era de 32% em 2014, caiu para 19% em 2017. “O campo
está contratando menos e pagando mais”, afirma.
A parcela de trabalhadores que recebiam até um salário, que era
33,6% dos ocupados em 2014, recuou para 29,8% em 2016. No mesmo período, a
fatia dos que não tinham instrução ou até dois anos de estudo diminuiu de 34,4%
para 32,3%. “O campo como mercado de trabalho para os sem qualificação está
cada vez menor”, observa.
Com informações O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário