Uma empresa localizada em Jaguaribara, no Ceará, desenvolveu um
sistema de biodigestão para processamento das vísceras e carcaças da tilápia do
Nilo, um peixe bastante produzido no Nordeste.
O projeto, coordenado pelo pesquisador André Siqueira, contou com o
apoio da Funcap através do edital Pappe. Segundo ele, este apoio foi
fundamental para viabilizar a concretização do projeto idealizado pela empresa
Piscis.
“A fundação financiou todos os estudos necessários para execução e
custeou a aquisição de materiais que foram utilizados na fabricação do
biodigestor”, relata.
A taxa de mortandade aceitável durante o processo de produção de
peixes é entre 5% e 7%. Considerando a produção do açude Castanhão, em
Jaguaribara, cidade a aproximadamente 227 km de Fortaleza, a pesquisa concluiu
que em 2015, o volume de carcaças de peixes mortos pode chegar a 5 toneladas
por dia.
O acúmulo dessa matéria orgânica nas margens do açude pode causar
poluição do lençol freático e da água do reservatório. De acordo com André,
para os piscicultores, responsáveis por dar a destinação correta aos resíduos,
a biodigestão se torna uma alternativa. “Isso permite que eles atendam às
exigências ambientais”, comenta.
Aproveitamento total dos resíduos
A biodigestão é um método de reciclagem que consiste na produção de
biogás combustível e também de adubos a partir de compostos orgânicos, nesse
caso os resíduos de peixe. Mas, segundo André, o principal item resultante do
processo de reutilização de resíduos desenvolvido pela Piscis é o óleo de
vísceras de tilápia, uma fonte de nutrientes rica em ômega-6, componente que é
classificado como um dos tipos de gorduras saudáveis.
A pesquisa realizada pela Piscis mostrou que o óleo de tilápia
apresenta melhor desempenho nutricional, quando comparado a outras fontes de
energia, como os óleos de origem vegetal. Além disso, é uma gordura insaturada,
que é mais saudável. O óleo extraído através da biodigestão pode ser aplicado
como fonte energética na formulação de rações para alimentação animal.
“Vale ressaltar que o uso de ingredientes ricos em ômega-6 na
alimentação de porcas em período reprodutivo aumenta o potencial ovulatório e
restabelece a taxa de ovulação”, afirma André.
O gás produzido no processo de biodigestão poderá ser convertido em
energia elétrica utilizada pela própria empresa para o funcionamento dos
equipamentos. “Caso haja excedente, ela poderá ser comercializada com a Enel,
companhia de fornecimento de eletricidade do Estado”, afirma o pesquisador,
destacando a autossuficiência energética da empresa como outra vantagem do
aproveitamento dos resíduos.
Além disso, a matéria orgânica sólida gerada na biodigestão, o
biocomposto, pode ser comercializada na forma de adubo. Isso significa que há
potencial para aproveitamento integral dos resíduos gerados pela piscicultura.
Curiosidade
A produção e o consumo de pescado vêm crescendo no Brasil. A grande
quantidade de resíduos (ossos, pele, nadadeira, vísceras e cabeça) gerada pode,
caso não tenha o tratamento e o descarte adequados, se tornar um problema
ambiental.
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), com base em um relatório da Organização das Nações Unidas para
Alimentação e Agricultura (FAO), o brasileiro consome, em média, 14,4 kg de
peixe por ano, superando a quantidade recomendada pela Organização Mundial da
Saúde (OMS), que é de 12 kg.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o
país produziu 483 mil toneladas de peixe em 2015, o que significa um
crescimento de 1,5% em relação ao ano anterior.
TRIBUNA DO CEARA


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