
No início do corredor um
bote d’água e no final à esquerda um armário para guardar pratos, copos e
talheres. O quarto era escuro e me dava medo. Não existia móvel, no quarto uma
cama não confortável de madeira rústica e colchão de palha. Eu e meus avôs
dormíamos na sala. No canto entre duas paredes formando um ângulo reto
armava-se minha rede, total branquinha. As duas redes ocupadas pelos meus avós
iam da parede da frente da casa a parede do quarto e havia um velho baú que
guardava de tudo. De dia, meu avô paciente artesão trabalhava em seu ofício.
Calado, ele economizava palavras, absorto alisava com carinho a madeira ainda
rústica, dava forma de arte. As horas passavam e as coisas eram tão monótona
que o final do dia nunca ia chegar. Em sua rotina ia construindo colheres de
paus e pequenos pilões, verdadeira obra de arte.
Minha avó, mulher
de caráter forte, descente dos Demétrio Cavalcante, tinha ascendência no
circundo familiar. Filha de senhor de engenho e herdeira da estirpe senhoril da
época.
Nos anos 50 e
60, do século XX, assisti e ouvi histórias de brigas, de fome, de morte, do
cangaceiro lampião, de padrinho padre Cícero, e, pincipalmente da política.
Histórias alegres e tristes, outras contadas através dos cordéis, entretanto,
anos depois, já adolescente, lia folhetim de cordel para minha avó, que
guardava com carinho numa caixa o registro dos cantadores populares.
Minha avó pela
manhã recebia pessoas a prosear os mais variados assuntos. Na sala uma
espreguiçadeira sempre bem cuidada e limpa, este assento guardado zelosamente
para receber o homem mais ilustre da cidade, Humberto Queiroz, farmacêutico e
ex interventor no governo de Getúlio Vargas.
Neste ambiente
de histórias, ficava a ouvir de tudo, das doenças da alma, até histórias
assombrosas de burra de padre, lobisomem, e coisa desse gênero fartamente à
baila, cada uma em sua época de conveniência, depois de anos, ante tanta
ingenuidade vim compreender tais motivos.
A casa da minha
avó ficava quase em enfrente a casa de força que gerava energia, o motor antigo
comprado pela prefeitura. Não preciso dizer que, a cidade ficava no escuro, a
raridade era a cidade ficar iluminada, pois, a eficiência do velho motor, que
chegara a Pereiro para o descanso, ou seja, tinha mas valia como peça de museu.
Eu, já adolescente, nos anos sessenta e outros amigos muitos afoitos para
época, motivos constantes pela necessidade de energia elétrica, que só for
resolvido pela visão de homem público, o governador Virgílio Távora. Nossa
audácia coube com o poder público local, arrosto principalmente aos nossos
países. Numa noite de escuridão, no uso da linguagem popular, a noite estava um
breu, e no comando de Falcão, Pereiro iluminou-se, não tão somente, pela
incandescência das lamparinas, mas pela aquela manifestação cívica e
propositalmente inusitada para Pereiro.
Quando tento
conta fatos de Pereiro, principalmente em minha ótica, certamente, estou
fazendo leitura muito particular. Neste caso afirmo, talvez não seja a pessoa
mais suscetível a esta tarefa. Peço que veja, pelo lado singular do narrador.
Não é desculpa ou humildade que aqui não cabe, pois o interesso é somente de
resgate para mim, quiçá, a poucos seja eu entendido.
Prof.: Rilmar Cavalcante
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