
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), já são mais de 11 milhões de brasileiros desocupados. No Ceará, somente
nos últimos 12 meses, foram fechadas 44.819 vagas formais, conforme
levantamento do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Este cenário é reflexo do agravamento da crise econômica
que tem diminuído consideravelmente a oferta de empregos formais em vários
setores. A indústria (calçado e têxtil), o comércio e a construção civil
lideram as estatísticas negativas.
Nem mesmo a região do Cariri, notoriamente conhecida pela
pujança econômica, impulsionada pelo turismo religioso, escapou das demissões.
No triângulo Crajubar, composto pelas cidades Crato, Juazeiro do Norte e
Barbalha, nos últimos 12 meses foram 1.433 demissões, ainda de acordo com o
Caged.
Saldo positivo
Entretanto, apesar dos números gerais serem negativos, o
último mês teve saldo positivo para Juazeiro do Norte (178) e Barbalha (103),
enquanto Crato declinou, perdendo 169 vagas.
Essa alternância pode ser explicada pelo comportamento
dinâmico em algumas áreas de trabalho, como a construção civil e o turismo
religioso, cujo fluxo de demissão e admissão é alto para acompanhar as
temporadas quentes da região.
Oferta em baixa
Em Russas, município da região Jaguaribana, a oferta de
empregos caiu 70% em pouco mais de três meses deste ano em comparação com o ano
passado. As informações foram coletadas junto à unidade do Instituto de
Desenvolvimento do Trabalho (Sine/ IDT) do Município e dão conta de que no
período de 2 de janeiro a 27 de abril do ano passado foram captadas 717 vagas
de emprego, sendo 362 para o aumento de quadro das empresas e 355 reposições.
Já no mesmo período deste ano, foram apenas 211 vagas,
sendo 43 para aumento de quatro e 168 reposições.
Para o gerente da unidade, Raimundo Pessoa, além da crise
econômica e política, que tem travado o investimento das empresas em diversos
setores, a crise hídrica, em especial, tem agravado o quadro de desempregos na
região. "Além dos empregos formais, os empregos sazonais também foram
perdidos com a falta de água aqui no Chapadão de Russas. A dificuldade de água
na região tem agravado a crise no setor", afirma.
Queda
No Centro-Sul do Ceará, as ocupações na indústria da
construção civil e no setor de serviços registraram no primeiro trimestre deste
ano queda em torno de 5%, segundo estimativa do economista Antônio Pereira.
A paralisação das obras de construção da Ferrovia
Transnordestina, no trecho entre as cidades de Cedro - Iguatu e Acopiara, no
decorrer deste mês, trouxe reflexo no desemprego em Iguatu.
Diariamente, dezenas de jovens procuram a unidade do
Sine/IDT, em Iguatu, em busca de oportunidade de emprego. A atendente de
enfermagem, Cláudia Costa, disse que há oito meses procura trabalho. "Já
deixei meu currículo, mas ainda não consegui nada", disse. A trabalhadora
doméstica Giseuda Oliveira disse que está difícil encontrar emprego. "A
maioria das donas de casa só quer para fazer faxina porque alega que não tem
condição de pagar o salário", contou. Luís Gomes, comerciário, depois de
trabalhar por 20 anos em uma loja de eletrodomésticos ficou desempregado no mês
passado. "As vendas caíram e houve demissões", contou. "Agora
estou batalhando um novo emprego", concluiu.
Saldo negativo
Com uma extensa rede de microempresas e lojistas e a
chegada de faculdades e centros de cursos técnicos, Quixadá, no Sertão Central,
é considerada uma das mais desenvolvidas da região. Mas o ano de 2016 tem feito
a cidade amargar um saldo negativo no nível de empregos. Segundo dados do
Caged, no primeiro trimestre, Quixadá deixou de registrar 145 vagas de emprego.
A maioria das demissões foi na construção civil.
Luilma de Fátima Silveira, coordenadora do Sine/IDT de
Quixadá, avalia que o volume poderia ser bem maior e acrescenta que a cidade
registra um número de demissões bem acima do normal para o período. "Nessa
região, nós trabalhamos com a indústria e o comércio, que são os setores da
economia que, junto com a construção civil, são os que mais empregam. E neste
período, esses setores não estão agindo como o esperado".
Junto com a construção civil, as vagas oferecidas pelos
setores da indústria e da agropecuária, apresentam o maior déficit, em
comparação com as demais. Ainda conforme Luilma, a procura de desempregados à
sede do Sine também tem aumentado. Por outro lado, a oferta tem diminuído,
fatores que, juntos, sinalizam a continuidade do nível de ofertas em queda.
"Diariamente, cerca de 130 a 150 pessoas estão na unidade, procurando
emprego. Mas a oferta tem diminuído significativamente".
Com o comércio em retração, nem mesmo Quixadá tem
conseguido escapar da crise. O resultado é que até mesmo as contratações
temporárias para o Dia das Mães têm apresentado um resultado bem abaixo do que
é esperado. "Não há quase ninguém contratando", disse a coordenadora.
Na região, a saída tem sido apostar em montar o próprio negócio e ser autor da
própria geração de renda. Muitos mini salões de beleza, pontos de vendas de
vitaminas e açaí e trabalhos com revenda porta à porta, tem ganhado mais
adeptos.
Ocupação
Em Sobral, na Zona Norte do Estado, também não tem sido
fácil se reinserir no mercado de trabalho. A cidade tem registrado significativa
queda na taxa de ocupação em todas as áreas, principalmente na indústria, setor
de maior formalização de empregos na região, seguido do comércio, serviços e
construção civil. No ano passado, a região registrou cerca de dois mil
desempregados; contingente que continua em crescimento, segundo levantamento do
Sine, com quase três mil pessoas sem espaço no mercado de trabalho.
Segundo o coordenador Regional do Sine/IDT, João Lourenço
Portela, "apesar de continuarmos com o trabalho de recolocação de profissionais
no mercado de trabalho, observamos não haver abertura de novas frentes, mas
apenas uma recondução; se sai um profissional, ele é substituído por outro com
experiência, mas não tem havido oferta de novas vagas, nem mesmo nesse período
que antecede o Dia das Mães", quando observamos pequenos remanejamentos
para dar conta da demanda no comércio".
O motorista Flávio Teles, 41, está há quase quatro anos
desempregado e sem nenhuma perspectiva. Além de buscar oportunidades em sua
área, diz ter feito diversos cursos para tentar entrar novamente no mercado de
trabalho, mas o esforço ainda não tem sido suficiente.
Jackeline de Lima Alves, 30, é outra que não consegue
trabalho há um ano. Para piorar a situação da família, seu esposo também foi
demitido há dois anos e ainda não conseguiu se reinserir no mercado. Para
sustentar os três filhos, o casal busca pequenos trabalhos informais para
sobreviver, os chamados bicos. "A gente tem vivido de quebra galho",
conta Jackeline.
Fonte: Diário do Nordeste
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