A pesquisa da Universidade de Fortaleza (Unifor) envolveu mais de
30 pessoas, entre professores, pesquisadores, alunos de Doutorado e Mestrado. A
Gluca foi a primeira cabra clonada e transgênica da América Latina. Ela nasceu
em 2014. As proteínas, produzidas pelas cabras clonadas, vão combater vários
vírus e bactérias, como explica um dos pesquisadores e professor da Unifor,
Caio Tavares.
“A gente tem no grupo nascidos três modelos, ou seja, três cabras
diferentes para produzir três proteínas diferentes”, explica, em entrevista à
Rádio Tribuna BandNews FM, na série de reportagens: Pesquisas Científicas.
Com o estudo vai ser possível produzir anticorpos contra o câncer,
que serão desenvolvidos através do leite desses animais geneticamente
modificados. Depois da clonagem, os pesquisadores induzem a lactação das
cabras. Agora eles trabalham para purificar a enzima.
“Mais especificamente com a glucocerosidade já foram feitos ensaios
de atividade que mostrou que a proteína funciona e também dentro do laboratório
a gente faz vários testes para saber se esse DNA que estamos manipulando produz
uma proteína ativa que funcione para as pessoas”, esclarece.
O alcance da pesquisa atravessa as paredes dos laboratórios,
beneficiando principalmente pessoas que sofrem de doenças genéticas raras, como
a doença de Gaucher, que é quando o organismo produz uma enzima responsável por
digerir as partículas de gordura ingeridas na alimentação.
Os medicamentos que tratam a doença estão na lista de alto custo do
Ministério da Saúde que importa o tratamento para mais de 700 pacientes no
Brasil. O médico ginecologista Rigoberto Gadelha trata pacientes com essa
doença.
“É uma doença genética rara transmitida de pais para filhos, e os
primeiros sintomas são relacionadas ao aumento do figo e do baço, que são os
órgãos que mais crescem, que muitas vezes leva a incapacidade física. O
tratamento é feito mais tradicional é a base de um enzima que é produzida
através de ovários e hamsters chineses, essa produção acontece em um
laboratório internacional, que fica em Boston, nos Estados Unidos, e é importado
pelo Brasil”, explica.
A classe médica reconhece o valor da pesquisa. Para especialistas
que lidam diariamente com pacientes que sofrem de doenças raras, ela é uma
grande aliada da Medicina e representa esperança de dias melhores.
Uma das primeiras pacientes diagnosticadas com a doença de Goucher
no Ceará foi Greice Kely. Aos 2 anos de idade os sintomas apareceram e afetaram
a parte neurológica. Foram 10 anos percorrendo médicos de várias
especialidades. A mãe dela, Bernardete Maia, relembra a dificuldade do
diagnóstico.
“A gente nem sabia o que era Goucher e os médicos nem sabiam
explicar. O medicamento não tinha, era para vir dos Estados Unidos, foi
demorando muito, que o baço dela cresceu muito e com 5 anos ela teve que tirar
o baço”, relembra.
O tempo passou. Hoje, Grace Kelly tem 30 anos. Devido a demora no
diagnóstico e a dificuldade dos remédios, ela carrega sequelas da doença. “Hoje
ela não fica em pé porque se for andar ela treme e cai. Ela não come com a mão
dela porque tem o tremor também”, diz.
A presidente da Associação Cearense de Portadores de Doenças
Genéticas, Mônica Aderaldo, associa pesquisas como essa a possível qualidade de
vida aos pacientes. “Se tiver uma pesquisa que venha melhorar, que venha trazer
uma qualidade de vida seria muito importante. Porque o paciente tem uma
qualidade de vida não muito boa”, garante.
Para a reitora da Unifor, Fátima Veras, é preciso continuar
investindo nas pesquisas acadêmicas. “Uma universidade como a nossa nós temos
que dar uma resposta para o investimento que é feito no conhecimento. Então,
temos que patrocinar pesquisas, pesquisas estas que são voltadas para ajudar a
comunidade”.
Por enquanto as cabras clonadas da Unifor ainda estão no processo
de análise dos pesquisadores. Quando as enzimas, produzidas por elas, se
transformarem em remédios, os pacientes que sofrem de doenças raras vão poder
quem sabe enxergar uma luz onde, por muito tempo, foi escuridão.
Fonte: tribunadoceara
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