segunda-feira, fevereiro 06, 2017
Apóstolo Valdemiro Santiago usa má fase como chamariz de sua igreja
Não há facada, barco à deriva, naufrágio, ataque de igreja
concorrente, operação da Polícia Federal, processo por aluguel atrasado ou
acusação de porte ilegal de armas que tire o bom humor do apóstolo Valdemiro
Santiago, 53.
Todos episódios que viraram propaganda, boa ou má, para um dos
líderes evangélicos mais influentes do Brasil, ao lado de nomes como Silas
Malafaia e Edir Macedo.
Hoje sua igreja, a Mundial do Poder de Deus, tem estimados 4.500
templos e três deputados: Missionário José Olímpio (DEM-SP), Francisco Floriano
(DEM-RJ) e Franklin Lima (PP-MG).
No dia 9/1, o apóstolo deu, literalmente, seu sangue por ela.
Quando a vida lhe dá um limão, você faz uma limonada. Quando um ajudante-geral
desfere três golpes de facão em Valdemiro, o religioso vai à TV pedir dinheiro.
Com alegados problemas mentais, Jonatan Higino, 20, atingiu pescoço
e costas do apóstolo com uma lâmina de 35 centímetros, num culto televisionado.
Dois dias e 25 pontos depois, Valdemiro usou o caso para incentivar fiéis a
doarem R$ 8 milhões.
Ele já conhece o enredo: "Quando a imprensa dá a notícia [do
atentado], coloca lá: 'Valdemiro nem bem se recuperou e foi pedir
oferta'".
Entre seculares (como evangélicos chamam aqueles de outra ou
nenhuma religião), a estratégia foi absorvida como um entre tantos exemplos de
pastores inescrupulosos que exploram sua base "coitadinha".
Para evangélicos, esse tipo de visão escancara preconceito e
condescendência de uma elite intelectual que os despe de autonomia para decidir
o que é melhor para eles. Segundo Valdemiro, o dinheiro solicitado banca um mês
de custos da Rede Mundial, seu canal na TV fechada.
Clubes de futebol têm "patrocínio do sócio-torcedor" (que
pagam mensalidade ao clube em troca de benefícios), e isso ninguém estranha,
compara o apóstolo são-paulino.
"O Palmeiras arrecadou milhões assim, e todo mundo aplaudiu.
Eu pago só neste canal aí R$ 8 milhões. O preconceito leva o repórter a separar
uma coisa da outra. Ontem mesmo estive com jovens da cracolândia. Isso [obras
de caridade] tem um custo."
Folha de S. Paulo
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