segunda-feira, novembro 07, 2016
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Vírus zika é transmitido de homens para macacos, segundo pesquisadores cearenses e paulistas
Vírus zika é transmitido de homens para macacos, segundo pesquisadores cearenses e paulistas
Os cearenses tratam os animais domésticos e até mesmo silvestres
como membros da família. Os cães e gatos ainda são os mais encontrados nas
residências, mas há quem prefira os exóticos como os saguis, os famosos
'soins'. O problema é que muitos desses bichos transmitem doenças. Em abril
deste ano, o Diário do Nordeste divulgou uma pesquisa inédita que revelou a
detecção do vírus zika (ZIKV) em macacos do Ceará.
Neste mês, a novidade é que o estudo elaborado por especialistas do
Instituto Pasteur, em São Paulo, e da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará
(Sesa) segue avançando em 25 municípios. O texto inicial do trabalho foi
divulgado no portal científico Biorxv.
A preocupação se situa, agora, na forma de transmissão, pois ainda
não foi possível confirmar como se deu a contaminação dos primatas, segundo a
pesquisadora científica do Instituto Pasteur, Silvana Regina Favoretto, doutora
em ciências Biológicas pela Universidade de São Paulo (USP).
"Considerando que as coletas foram realizadas no período de
epidemia de zika no Ceará e que estes animais foram capturados sempre em
contato próximo com a população humana, a hipótese mais provável é que a fonte
de infecção foram os próprios humanos, tendo o mosquito como vetor",
avalia Silvana.
De acordo com a pesquisadora, que vem mensalmente ao Ceará, os
moradores são normalmente receptivos, permitindo a entrada em suas propriedades
para colocação das armadilhas e realização das capturas. Durante o processo de
visita nas residências, a comunidade colabora com a pesquisa respondendo
questionários em relação à presença de animais silvestres e conhecimentos a
respeito da raiva. A previsão inicial é que o encerramento do estudo ocorra em
abril de 2017. Segundo os pesquisadores paulistas, a Sesa é parceira deste
projeto de pesquisa e tem fornecido total apoio à realização. O objetivo da
produção científica é discutir a epidemiologia do vírus da raiva e do zika nas
espécies animais em estudo a fim de fornecer informações para um melhor
entendimento das doenças.
Análise
Os primeiros macacos encontrados com vírus foram capturados nas
regiões de Tabuleiro do Norte, Quixeré, Limoeiro do Norte, São Benedito e
Guaraciaba do Norte. O estudo inédito coletou amostras de sangue e saliva de
saguis (Callithrix jacchus) e macacos-prego (Sapajus libidinosus). Os testes
iniciais tiveram início em julho com conclusão em novembro de 2015, nas áreas
de maior índice de epidemia do Ceará.
Os primatas foram marcados com microchips e lançados de volta aos
seus habitats originais. Na análise preliminar do material, houve registro de
29% de positividade.
Para validar o estudo, os cientistas sequenciaram e amplificaram a
amostra coletada dos macacos. O diagnóstico apontou que os bichos tinham ZIKV
com 100% de semelhança com outras ZIKV da América do Sul. Conforme o estudo,
"permanece como uma advertência para a possibilidade de que eles poderiam
atuar como reservatórios, semelhante ao ciclo silvestre da febre amarela no
Brasil".
Espécies
A descoberta dos primatas com o vírus preocupa os órgãos de
proteção aos animais. Para o coordenador de fiscalização do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no
Ceará, Miller Holanda, a situação se complica pelo fato de a população
residente em áreas de vegetação e urbana criar os primatas como animais
domésticos. "Muita gente pega esses bichos ainda filhotes. Orientamos, mas
não respeitam a legislação", declara. Outro fator visto com temor é a
questão do tráfico que traz primatas de outras regiões para o Ceará.
De acordo com levantamento do Ibama, entre janeiro e outubro deste
ano, o órgão apreendeu 65 animais que viviam em residências, sendo 42 saguis e
23 macacos-prego. O número foi o mesmo em todo o ano passado, com 48 soins e 17
macacos-prego. Para Miller, apesar de a quantidade se manter, a situação não é
a correta. "Anualmente, passam 5 mil animais no Centro de Triagem do
Ibama. Desse total, pelo menos 10% são de primatas. O ideal seria zerar".
Ainda segundo o gestor, nos últimos dois anos o Estado perdeu sete
criadouros de animais devido ao descumprimentos de normas de saúde pública.
Atualmente, apenas 13 criadouros e mantenedores possuem licenças válidas para
cuidar de macacos. "Os ambientes que funcionam hoje são de
conservacionistas que utilizam os locais para contemplação dos bichos. São
pessoas com bons recursos financeiros que o Ibama tem ciência dos
cuidados".
No Estado, segundo o Ibama, os primatas vivem em regiões com mata
atlântica remanescente e áreas de caatingas com maior incidência de população
como em Serra Grande, Serra das Almas e Floresta do Araripe.
Fonte: Ibama/Ministério do Meio Ambiente
Diário do Nordeste
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